sexta-feira, 1 de julho de 2011

Exegese de Romanos 13. 1-7.

TRADUÇÂO
1-Toda a alma esteja sujeita às potestades superiores; porque não há potestade que não venha de Deus; e as potestades que há foram ordenadas por Deus.
2-Por isso quem resiste à potestade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos a condenação.
3-Porque os magistrados não são terror para as boas obras, mas para as más. Queres tu, pois, não temer a potestade? Faze o bem, e terás louvor dela.
4-Porque ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada; porque é ministro de Deus, e vingador para castigar o que faz o mal.
5-Portanto é necessário que lhe estejais sujeitos, não somente pelo castigo, mas também pela consciência.
6-Por esta razão também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo sempre a isto mesmo.
7-Portanto, dai a cada um o que deveis: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra.


INTRODUÇÃO


Paulo continua ensinando sobre os relacionamentos que o cristão de ter na prática da sua nova vida: deve relacionar-se submisso por sua entrega total a Deus (12.1-2); deve relacionar-se adequadamente consigo mesmo (12.3); deve relacionar-se corretamente, usando os dons que Deus lhe concedeu, para edificação do “corpo de Cristo” (12.4-8); deve relacionar-se amorosamente no contexto da comunidade cristã (12.9-16) e; deve relacionar-se não retaliando, mas servindo àqueles que se opõe (12.17-21).
Agora, Paulo chama a atenção para um novo tipo de relacionamento: aquele que o cristão deve ter com as autoridades constituídas; o relacionamento do cristão com o estado. O cristão deve obedecer somente às autoridades que são corretas e promovem o bem? Como o cristão deve se relacionar com autoridades que não são corretas e são injustas?
Discute-se também, a partir da expressão ( exousiais) autoridades (no plural), quem são elas; São os seres espirituais denominados principados e potestades, poderes, dominadores e autoridades conforme (Efésios 6.12 e Colossenses 2.15)? É o deus deste século ou príncipe deste mundo conforme (2º Co 4.4 e Ef 2.2)? Ou são as autoridades humanas constituídas (a serviço desses poderes espirituais do mal) que crucificaram o Senhor da glória (1º Co 2.8)? Ao seguir-se um dos princípios básicos da hermenêutica, considerando o próprio contexto do texto, conclui-se que Paulo refere-se ás autoridades humanas governamentais.
Portanto, em resumo, pode-se afirmar que: No relacionamento com as autoridades, o cristão deve caracterizar-se por ser um cidadão consciente.


DIVISÃO E CONTEÚDO DE TODA  CARTA

A Carta aos Romanos poderá dividir-se em quatro partes:
I.   Introdução: 1,1-17.
II.  O Evangelho da Salvação: 1,18-11,36.
III. Vida de acordo com o Evangelho: 12,1-15,13.
IV. Conclusão: 15,14-16,27.
DIVISÃO E CONTEÚDO DO CAP 13.1-7

  1. Como cidadão consciente, o cristão deve reconhecer a ordem divina: 13.1.
  2. Como cidadão consciente, o cristão deve entender as razões de ser , da ordem: 13.2.
  3. Como cidadão consciente, o cristão deve entender qual o propósito das autoridades constituídas: 13.3-6.
  4. Como cidadão consciente, o cristão deve ter a motivação correta ao relacionar-se com as autoridades constituídas: 13.5-7.
  5. Como cidadão consciente, o cristão deve saber quais as conseqüências do relacionamento com as autoridades constituídas: 13.2-7.


Destinatários

Em relação aos destinatários, a própria carta menciona o seu destino: ...”a todos os amados de Deus que estais em Roma...” (Romanos 1.7).
O que se discute, em relação ao destino da carta, tem mais a ver com a origem da igreja de Roma, a situação da igreja quando da escrita da carta e sua composição mista (judeus e gentios). A carta reflete certa  tensão vivida entre os dois grupos, que pode ser observada nos assuntos abordados: por exemplo, lei e graça (capitulo 7 – 8), o destino de Israel e dos gentios (capitulo 9 a 11).

Estilo da carta

Paulo usa, especialmente em romanos, o recurso da diatribe (um escrito ou discurso crítico apaixonado, violento e injurioso – dicionário básico da língua portuguesa). Esse método de discussão, também usado no ensino da filosofia, era uma forma retórica grega em que o escritor (OU ORADOR) ENTRAVA num debate imaginário com um interlocutor, levantando pontos ou fazendo objeções que eram respondidas no texto ou durante a sua argumentação.
Associados a este método, podem concluir também que o estilo vívido de Paulo nas suas  cartas, se devem as suas vastas experiências missionárias. Certamente o apóstolo tinha sido interrompido várias vezes por ouvintes judeus ou gentios que levantavam objeções e pediam esclarecimentos em relação as suas radicais e novíssimas afirmações que constituíam a mensagem do “seu evangelho”. Essas interrupções exigiam dele respostas sucintas, corretas e, sobretudo imediatas. Essa prática comum na antiguidade foi exemplificada através do relato de Lucas, na proclamação de Paulo no areópago (Atos 17-16-33).
Com essa prática comum entre os gentios, ao escrever, por meio de Tércio, apresentando sua visão do evangelho a uma comunidade que não conhecia, Paulo utilizou-se desse estilo na produção de Romanos.

Romanos 13:8-14.
Nossa relação com a lei: a lei se cumpre no amor ao próximo 8-10
* “nossa relação com o tempo: vivendo entre o” já e o ainda não 11-14
Em romanos capitulo 12 Paulo aborda os nossos quatros relacionamentos básicos:
Com Deus 1-2.
Com nós mesmo 3-8.
Uns com os outros 9-16.
Com nossos inimigos 17-21.
Agora no capítulo 13 ele analisa mais três:
O relacionamento com o estado (cidadania consciente 1-7)
Com a lei (que se cumpre no amor ao próximo 8-10)
Com o dia da volta do senhor (pois vivemos entre o já e o ainda não 11-14).
No  versículo sete Paulo fecha dizendo que o cristão consciente submete-se À autoridade do estado, honra os seus representantes, paga os seus impostos e ora pelo bem estar do seu povo. (Jeremias 29.7; um Timóteo 2.1ss). Além disso, faz tudo para que o estado cumpra o papel que lhe foi designado por Deus e nunca perde uma oportunidade de participar ativamente em seu trabalho.


COMENTÁRIO

A. O governo humano é ordenado por Deus. Não se trata de “direito divino dos reis”, mas do lugar divinamente designado para os governos. Nenhuma forma é declarada melhor que as outras.
B. A obediência, a reverência e a atitude adequada em relação às autoridades são deveres religiosos dos crentes.
C. É próprio dos crentes, e adequado, apoiar o governo humano com impostos e orações.
D. O governo humano tem o propósito de manter a ordem, como servos de Deus para este mister.
E. O governo humano não é definitivo. Ele é limitado em sua autoridade. Os crentes têm que rejeitar a autoridade, por amor à sua consciência, quando ela viola os limites dados por Deus. Como Agostinho declarou em A Cidade de Deus, (1) somos cidadãos de dois reinos, um temporal e um eterno. Temos responsabilidades em ambos, mas o reino de Deus é o principal! Há tanto um foco
individual quanto um coletivo em nossa responsabilidade para com Deus.
F. Temos que encorajar os crentes, se o sistema é democrático, para participar ativamente do processo de governo e implementar os ensinos das Escrituras, sempre que possível.
G. Mudança social precisa ser precedida de conversão individual. Escatologicamente não há real esperança duradoura nos governos humanos. Todos eles, embora desejados e usados por Deus,
são expressões pecaminosas da organização humana sem Deus. Este conceito é expresso no uso joanino da palavra “mundo”.

1 Nesse contexto, o autor expressa o princípio básico das relações do crente com o Estado, que é submissão às autoridades, por que são instituídas por Deus. O governo humano, portanto, é estabelecido por ordenança divina e os cristãos, acima de todos, devem obedecer às leis, pagar impostos e respeitar as autoridades. A questão que surge quando essa autoridade se torna injusta ou contrária à consciência cristã não é tratada aqui.
2 (Condenação) É importante notar que condenação, aqui, significa punição do estado, e não de Deus, como se pode ser induzido a crer pela primeira parte do verso (cf. 1Pe 2:13, 14 e 4:14,15). O sentido nos permite compreender que a resistência à autoridade civil não agrada a Deus, mas o termo condenação não está sendo aplicado como sanção para aquele caso.
3,4 Não se está cogitando de uma autoridade que exorbita às suas competências, mas aquela que pune o mal e incentiva o bem.
7 (O que lhes é devido) Esta expressão coloca todo o argumento no eixo apropriado. Serve como um paralelo para: “a César o que é de César” (Mc 12:17). Não se requer imposto a quem merece honra, nem adoração a quem merece tributo. Há limites apropriados a sujeição do cristão (At. 5:29; Mc 12: 17).




CONCLUSÃO


Romanos 13 começou com uma importante orientação sobre como nós podemos ser bons cidadãos (7-13) e relacionar-nos bem com os outros (8-10); e termina dizendo o porquê de agirmos assim. Nada poderia motivar-nos tanto a cumprir esses deveres quanto uma vívida expectativa pela volta do Senhor. Nós só estabeleceremos uma relação correta com o estado.
Lembrando-nos do contexto, de quem falava,para quem falava e de qual era a situação da igreja no Império Romano, o principio da cidadania consciente deve ser aplicado por todos os cristãos a todas as épocas.
É claro, entretanto, que a submissão que o cristão deve ás autoridades constituídas vai até o limite exato em que a obediência exigida não fira a obediência do cristão á Deus.